O que aconteceu com a gigante das criptomoedas FTX?

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A FTX, uma das maiores corretoras de criptomoeda do mundo, chegou a valer cerca de US$ 32 bilhões neste ano. O crescimento da empresa levou seu dono, o jovem Sam Bankman-Fried, ao posto de um dos maiores bilionários do mundo – status que ele perdeu rapidamente.

Na última sexta-feira (11), Bankman-Fried – ou SBF, como é conhecido na internet, – contou ter pedido a recuperação judicial da FTX na justiça americana. O motivo? Depois do vazamento de documentos que mostravam a situação das contas da corretora, milhares de clientes começaram a sacar o dinheiro que tinham na empresa. E ela quebrou.

O que é a FTX?

 

A FTX é uma corretora, um espaço que permite que pessoas físicas e jurídicas comprem e vendam ativos. Por se tratar de uma corretora cripto, os ativos negociados na FTX são as moedas digitais. A FTX é a segunda maior do tipo no mundo, atrás apenas da Binance, e por isso mantinha bilhões de dólares em depósitos de seus clientes.

O que aconteceu com a corretora?

 

No primeiro semestre do ano, com o aumento das taxas de juros no mundo (o que impacta negativamente os ativos de risco, como as criptomoedas), o dono da FTX passou a intervir para salvar outras empresas, emprestando dinheiro – o que especialistas dizem ter sido origem dos erros cometidos na companhia.

“A FTX e seu fundador sempre pautaram suas decisões por uma grande agressividade, adquirindo mais alavancagem, com engenharia financeira e aparentemente com uso de fraude e contágio de balanços de empresas que não deveriam ter qualquer tipo de vínculo”, diz Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset Management.

Uma das empresas que recebeu dinheiro da FTX foi a Alameda Research – pertencente ao próprio Bankman-Fried, que recebeu bilhões em FTT (o token da FTX, uma espécie de moeda oficial da plataforma).

Ludolf explica que, embora os negócios devessem ser separados, aparentemente o executivo utilizou os recursos dos clientes que estavam depositados na corretora para salvar a operação da Alameda, o que é ilegal.

Por que os investidores correram para sacar o dinheiro?

 

Quando essas informações vieram à tona no começo de novembro, junto a um balanço patrimonial da Alameda que revelava que cerca de US$ 14,6 bilhões eram mantidos em FTT, os clientes da corretora, com medo de perderem seus depósitos, começaram uma corrida para sacar os recursos.

Por não ter dólares suficientes para arcar com todos os saques, a FTX quebrou. No site da companhia, um aviso no topo da página avisa que os saques foram bloqueados e que a empresa “desaconselha fortemente” novos depósitos.

“Diferentemente do que a FTX alegava, não havia dinheiro suficiente para arcar com os compromissos de resgate. A corretora efetivamente se apropriou dos recursos de clientes”, afirma Ludolf.

Qual foi o papel da Binance?

 

Segundo explica o especialista da QR Asset Management, a Binance – maior corretora cripto do mundo – “foi um dos catalisadores e aceleradores do movimento de corrida bancária na FTX, mas não teve nenhum vínculo direto com a derrocada”.

O CEO da Binance, o chinês Changpeng Zhao, ajudou a alimentar os temores dos investidores que levaram aos saques em larga escala. Ele e o presidente da FTX trocavam farpas em redes sociais há algum tempo – mas, mesmo assim, Bankman-Fried tentou um acordo com Zhao para intervir na operação da corretora e evitar a falência.

A Binance chegou a anunciar a intenção de comprar os negócios da FTX que eram operados fora dos Estados Unidos quando a corretora suspendeu os saques.

“Rapidamente após iniciar a due diligence (termo em inglês para descrever os passos legais de análise antes de fechar um negócio), no entanto, ficou claro que (o problema da FTX) não se tratava apenas de má gestão de risco, mas sim de fraude em larga escala, por isso desistiram da compra”, ressalta Ludolf.

O que fez Bankman-Fried após a quebra?

Um dia antes de anunciar o pedido de recuperação judicial, na quinta-feira (10), Bankman-Fried detalhou o que ocorreu com a empresa e disse ter errado duas vezes na administração.

“Na primeira vez, uma rotulagem interna ruim de contas relacionadas a bancos significou que eu estava substancialmente errado com meu senso de margem dos usuários. Achei que eram bem mais baixos”, escreveu. O executivo disse que errou da mesma forma uma segunda vez e, além disso, considera que não foi transparente o suficiente com suas operações na companhia.

Ele deixou o cargo de CEO da FTX, que será ocupado por um advogado especializado em recuperação judicial.

De acordo com Alexandre Ludolf, porém, esses problemas não são erros, mas sim crimes.

“Os pedidos de ‘desculpas’ foram uma afronta a todo mundo que trabalha com seriedade nesse sistema, se desculpando por um ‘lançamento contábil’ equivocado que dava a percepção de uma saúde financeira muito maior do que a de fato existia na operação da FTX.”

O que acontece agora?

 

Ainda é muito difícil mensurar todos os impactos do episódio.

“As conversas de corredor giram em torno de esperar para ver se vamos ver mais repercussões e o que os projetos que tinham recursos custodiados na FTX vão fazer. Mas infelizmente devemos ver ainda muitas outras vítimas e a realidade só será conhecida com detalhes nos próximos meses”, explica Ludolf.

O diretor da QR Asset acredita ainda que, nos próximos meses, Bankman-Fried e outros executivos envolvidos nos negócios da FTX e da Alameda devem enfrentar a Justiça, podendo até ser presos por fraude financeira.

Por que a quebra afeta todo o mercado cripto?

 

O mercado cripto já vem sofrendo desde o começo do ano. A alta nos juros afeta os ativos de risco, já que, com taxas maiores, os títulos públicos americanos – considerados os mais seguros do mundo – passam a entregar retornos mais atrativos e ganham vantagem frente a outros produtos financeiros.

Mas o episódio da FTX afeta diretamente todo sistema de criptomoedas, ao gerar uma crise de confiança.

Quem tem criptoativos deve fazer o quê?

 

Ludolf recomenda que o investidor mantenha a cautela, com atenção às oportunidades oferecidas por companhias sérias. Ele explica que algumas alternativas são os fundos de investimento regulados que investem em criptoativos ou os ETFs (fundos de índice) de criptoativos para aqueles que querem ter aportes no segmento.

O mais importante, para o especialista, é que o investidor conte com bons prestadores de serviços e custodiantes sérios e regulados.

Fonte: Portal G1

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