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O que me fez tornar-me um vaticanista? – Por Dr. Juvenil Alves

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Ao longo da minha trajetória, sempre fui fascinado pela interseção entre fé, poder e história. No entanto, foi um momento específico que despertou minha verdadeira paixão pela Vaticano e seus bastidores. Era outubro de 1978, quando, em meio às minhas atividades no Seminário de Juiz de Fora, fui incumbido de uma tarefa simples: anotar o nome do novo papa assim que fosse anunciado. O que eu não sabia é que aquele instante marcaria o início de uma jornada que me levaria a décadas de estudo sobre os meandros da política do Vaticano.

Neste série de relatos, quero compartilhar com você minha experiência como estudioso desse pequeno, mas poderoso Estado. Contarei sobre minhas previsões acertadas, minhas viagens e encontros marcantes, e como construí uma rede de informações que me permite analisar o futuro da Santa Sé com embasamento e precisão.

Se você tem interesse em compreender não apenas a dimensão religiosa, mas também as articulações políticas que moldam a escolha de um papa e o rumo da Igreja Católica, acompanhe essa jornada comigo. Afinal, a história do Vaticano é muito mais do que aquilo que aparece à primeira vista.

O ano era 1978, precisamente 16 de outubro, uma segunda-feira. Eu já estava há alguns anos no Seminário de Juiz de Fora e, naquela tarde, como tantas outras, encontrava-se na biblioteca do arcebispo Dom Geraldo. Meu ofício, entre outros, era datilografar seus documentos e correspondências. Naquele dia em particular, um pedido incomum me foi feito: deveria permanecer atento ao rádio, sintonizado na Rádio Tupi, pois a qualquer momento seria anunciado o novo papa. Assim que a notícia fosse divulgada, caberia a mim a subir ao segundo andar e levar o nome eleito ao arcebispo.

E então aconteceu. Às 13h44, a voz do locutor ecoou pela sala e pronunciou um nome inesperado: Karol Wojtyla. Um papa vindo da Polônia! A surpresa me tomou por inteiro – um pontífice de um país da Cortina de Ferro!

Corri ao encontro de Dom Geraldo, que, ao ouvir o nome, ficou atônito. Conhecia pessoalmente Wajtyla, haviam estudado juntos. Comum leve sorriso, disse-me que aquele novo papa era teologicamente conservador e que, portanto, o celibato sacerdotal não seria abolido, mas que ele mudaria os rumos da política mundial.

Meses depois, ao retornar de Roma, Dom Geraldo revelou-me os bastidores daquela escolha. A eleição de Wojtyla fora fruto de uma confluência política entre o cardeal John Krol, arcebispo de Filadélfia e de origem polonesa, o presidente americano Ronald Reagan e a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, todos movidos pelo desejo de encerrar a Guerra Fria.

Foi nesse momento que compreendi a grandeza e a singularidade da política do Vaticano. Ali, nas sombras dos conclaves, nas estrelinhas dos discursos e nos gestos que muitos ignoram, reside uma trama intrincada, que mescla espiritualidade, estratégia e poder. E foi assim que, a partir daquele dia, tornei-me um estudioso desse pequeno Estado com uma das histórias mais enigmáticas do mundo.

Desde então, leio, investigo, pergunto, analiso e opino sobre tudo o que envolver a Santa Sé. Muitas vezes estive no Vaticano, e ainda hoje mantenho contatos preciosos. Um cardeal, que chamarei de Cardeal Fisher, recebe-me com afeto, partilhando informações valiosas em nossas conversas, sempre acompanhadas de um café no hotel “Rezidenza Paolo VI”, onde ele é sempre encontrado, com vista para a Basílica de São Pedro.

Minha intuição e meus estudos não falharam. Predisse a eleição de Joseph Ratzinger, embora tivesse dois palpites. Mas foi com Jorge Mario Bergoglio que cravei a previsão sem hesitação. E posso dizer que meu informante, Cardeal Fisher, ainda hoje presente na Cúria, teve um papel crucial nessa confirmação.

Em 1º de julho de 1980, durante a visita do Papa João Paulo II a Belo Horizonte, tive a honra de estar ao seu lado no altar durante a missa campal celebrada na Praça do Papa. Dom Serafim Fernandes de Araújo, então arcebispo coadjutor de Belo Horizonte, concedeu-me esse privilégio inesquecível. A celebração reuniu cerca de 800 mil fiéis, que lotaram as ruas da capital mineira para ver o pontífice.

A partir de hoje, desejo compartilhar com você a história do Vaticano, narrada por meio dos meus estudos e das confidências que recebo. Tenho centenas de textos que, aos poucos, irei revelar. Afinal, o Vaticano não é apenas a sede da Igreja Católica; é também um Estado singular, um mosaico de segredos, mistérios e decisões que moldam a história do mundo.

Dom Geraldo jamais soube que aquele pequeno pedido — entregar-lhe um bilhete com o nome do novo papa — despertaria em mim uma paixão avassaladora pela história e pelos bastidores da Santa Sé.

E assim, de um simples recado, nasceu minha vocação como vaticanista.

Prepara-se, caro leitor, para mergulhar comigo nesse universo fascinante, onde o sagrado e o político dançam numa coreografia invisível aos olhos do mundo.

Nota: Cardeal Fisher me passará muitos detalhes também, mas como a promessa de não revelar seu verdadeiro nome e nacionalidade.

Juvenil Alves

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