A aprovação da Reforma Tributária trouxe alívio e apreensão em proporções semelhantes. Alívio porque finalmente teremos um sistema mais racional. Apreensão porque, antes de chegar lá, precisaremos atravessar sete anos de convivência entre o velho e o novo — um período que exigirá das empresas brasileiras mais do que adaptação: exigirá estratégia, paciência e olhar cirúrgico sobre cada operação. Entre 2026 e 2033, seu negócio não pagará apenas um conjunto de tributos, mas dois. E a pergunta que me fazem diariamente é: como sobreviver a essa transição sem sangrar no caixa?
O Que É Esse Período de Transição
A partir de 2026, começam a vigorar simultaneamente o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que substituirão gradualmente o ICMS, o ISS, o PIS e a COFINS. Mas atenção: os tributos antigos não desaparecem de uma hora para outra. Eles serão reduzidos progressivamente, enquanto as alíquotas do IBS e da CBS aumentam no mesmo ritmo.
Na prática, significa que sua empresa recolherá, ano após ano, uma cesta mista de tributos. Em 2026, você ainda paga quase tudo do sistema antigo, com uma pequena fatia do novo. Em 2033, a transição se completa — e só então estaremos inteiramente sob as novas regras. É como trocar as rodas de um carro em movimento: possível, mas arriscado se não houver planejamento.
Esse modelo foi desenhado para evitar choques abruptos na arrecadação e permitir que estados e municípios se adaptem à perda de autonomia tributária. Mas, do ponto de vista da gestão empresarial, representa um desafio hercúleo: sistemas distintos, regimes de apuração diferentes, alíquotas variáveis, créditos que não conversam entre si. Quem não se preparar pode se ver preso em uma teia burocrática que consome tempo, dinheiro e energia.
Os Riscos de Quem Não Se Antecipa
Vale observar que muitos empresários ainda tratam a Reforma como um evento futuro, distante. Mas 2026 já bate à porta. E a convivência entre sistemas não é uma mera formalidade contábil — ela tem impacto direto no fluxo de caixa, na precificação, na competitividade e, principalmente, na segurança jurídica das operações.
O primeiro risco é a duplicidade tributária disfarçada. Embora a transição preveja redução proporcional dos tributos antigos conforme os novos entram em vigor, a sincronia depende de regulamentação detalhada que ainda está sendo construída. Há setores que podem sofrer sobreposição temporária de bases de cálculo, especialmente em cadeias produtivas longas ou em operações interestaduais complexas.
O segundo risco é a perda de créditos. O sistema de não cumulatividade plena prometido pelo IBS/CBS é mais amplo do que o atual, mas a transição exige que créditos acumulados no regime antigo sejam tratados de forma específica. Quem não fizer o inventário correto desses créditos — e não adotar a estratégia adequada para aproveitá-los ou compensá-los — pode deixar dinheiro na mesa. E não é pouco dinheiro.
Por fim, há o risco da desorganização administrativa. Manter dois sistemas de apuração, duas rotinas de compliance, dois calendários de obrigações acessórias exige estrutura. Empresas que hoje já patinam para cumprir o SPED, a EFD-Contribuições e demais obrigações digitais vão se ver diante de uma montanha ainda maior de exigências. Sem automação, sem consultoria especializada e sem planejamento, o risco de autuação — ou de perda de benefícios — é real e iminente.
Como Navegar os Sete Anos de Convivência
A boa notícia é que a transição, embora complexa, é previsível. E o que é previsível pode ser planejado. A primeira providência é mapear, com precisão cirúrgica, como cada produto ou serviço da sua empresa será tributado nos dois sistemas. Isso significa revisitar contratos, rever margens, simular cenários. Não é trabalho para uma tarde — é projeto estruturante.
Em segundo lugar, é fundamental preparar seus sistemas de gestão. ERPs desatualizados, planilhas manuais e processos artesanais não sobreviverão à transição. A automação não é luxo, é necessidade. E quanto antes começar, menor o custo e o risco. Falo isso com a experiência de quem viu empresas desabarem não por falta de receita, mas por incapacidade de gerir a complexidade tributária.
Outro ponto essencial: revisite sua cadeia de fornecedores e clientes. A transição afeta toda a cadeia produtiva. Se seu fornecedor não se adaptar, o crédito que você espera pode não vir. Se seu cliente não entender a nova sistemática, a negociação de preço pode travar. A Reforma Tributária não é um assunto interno — é sistêmico. E exige diálogo, transparência e alinhamento estratégico com todos os elos da sua operação.
Por último, mas não menos importante: busque orientação especializada. Este é um dos momentos em que a assessoria tributária deixa de ser despesa e passa a ser investimento. Um erro de enquadramento, uma interpretação equivocada de regime de transição, uma escolha inadequada de momento para migrar benefícios fiscais — tudo isso pode custar milhões. E o pior: pode custar anos de discussão administrativa e judicial.
Entre o Velho e o Novo, a Prudência Mineira
Há uma frase do filósofo Heráclito que me acompanha há décadas: “Ninguém entra duas vezes no mesmo rio”. A Reforma Tributária é, em essência, uma mudança de rio. Mas, diferentemente do que o filósofo grego descreveu, aqui seremos obrigados a nadar em dois rios ao mesmo tempo — pelo menos por sete anos. E a correnteza de cada um puxa para um lado.
A convivência entre o sistema tributário antigo e o novo não será tranquila. Exigirá mais do que técnica: exigirá visão estratégica, capacidade de adaptação e, sobretudo, prudência. Aquela prudência mineira, que não se deixa levar pelo entusiasmo cego nem pela paralisia do medo. Que observa, calcula, se prepara. E age no tempo certo.
A transição de 2026 a 2033 não é um obstáculo intransponível, mas também não é um passeio no parque. É uma janela de oportunidade para quem se preparar — e uma armadilha para quem subestimar sua complexidade. Minha recomendação é simples: comece agora. Mapeie seus riscos, organize sua casa, capacite sua equipe. Porque quando 2026 chegar, não haverá tempo para improvisação. E, como sempre digo aos meus clientes, no Direito Tributário brasileiro, improvisar custa caro. Muito caro.
,Para acompanhar todos os desdobramentos oficiais e recursos educativos sobre essas mudanças, confira nosso artigo sobre a Receita Federal Lança Série Educativa Sobre a Reforma Tributária: O Que Empresários Precisam Saber, onde analiso os materiais divulgados pelo Fisco e o que realmente importa para sua empresa.
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Este conteúdo tem caráter meramente informativo e não substitui a consultoria jurídica personalizada. Cada caso deve ser analisado em suas particularidades por profissional habilitado.
Se sua empresa precisa de um diagnóstico personalizado sobre como atravessar esse período de transição com segurança e eficiência, Entre em contato comigo. Com 40 anos de experiência em Direito Tributário, posso ajudar você a transformar complexidade em estratégia — e incerteza em planejamento sólido.
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